terça-feira, 30 de agosto de 2011



"Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras, e falta de ar..."
Clarice Lispector

sábado, 20 de agosto de 2011

TAL VEZ - NERUDA


 ( Against all  odds -  Phil Collins)



Tal vez

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusco, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

NERUDA


Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

GUSTAVO DRUMMOND

 Vai ser assim

Esqueça de me esquecer,
lembre-se do amanhecer,
da brisa que roça sua face,
de quem conhece suas fases,
decora todos seus capítulos;
sem definições, rótulos, títulos;
apenas por bem-querer,
beija-flor que te aborda,
flor excêntrica, permita-me ler
suas mãos, suas manhas,
brilhante raiado, aragem
liberta; te ato com cordas
vocais, ignore minha sanha,
decore minha senha
e entre na minha vida
(não se contenha)
compromissadamente,
se eternize em mim,
pausadamente ...
assim ...

[gustavo drummond]

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Ao  Amor  Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,

feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona

aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.

Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 13 de agosto de 2011

CLARICE LISPECTOR

                                                                                   
"Suponho que me entender 
nãoseja uma questão de inteligência
e sim de sentir, 
de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca".

Ficar com o nada ... lispector



"...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo".

"a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais...."


"Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida
e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança suficiente para fazê-la feliz."


Clarice Lispector

terça-feira, 9 de agosto de 2011

VENTO VERDE - Ruth Maria Perrella


 
VENTO VERDE


Ainda quero ficar nesta vida
Qual folha estriada de palmeira
Farfalhando leve no azul do céu

Surfar em flocos de nuvens dependuradas
Sombrear areias brancas pisadas
Banhar-me no sereno fresco das madrugadas

E por mais ainda querer
Ser vento verde que sopra
Em teu corpo abrasado

Fogoso e escandaloso

Cobiças que brotam em mim.


VÍCIO - JPALMA JR


há algo em mim
que eu não sei por quê
me move o corpo rumo a abismos
me leva à beira de precipícios
me arrasta feito um vendaval
me queima o corpo qual um vulcão
me empurra rumo aos infinitos
me transtorna o peito e dá-me asas
mesmo que eu não queira
me faz voar...
há algo em mim que não conheço
que faz-me procurar um beijo
um canto, o chão, um leito
há algo em mim de irracional
que faz-me amar sem querer pensar
que faz de mim só um animal
que me faz fera e me faz urrar
há algo em mim que mistura sentimentos
e sonhos de há muitos tempos
tantos que já nem me lembro
há algo em mim que não quer morrer
que quer viver pela eternidade
há algo em mim que é uma prisão
e ao mesmo tempo é liberdade...
só tem um nome o que me empurra
pintado com a tinta rubra do meu coração
é como eu chamo esta cousa louca
este meu vício de ser PAIXÃO...