sábado, 6 de outubro de 2012

Suspensas fugas


Para pensar em ti todas as horas fogem:
o tempo humano expira em lágrima e cegueira.
Tudo são praias onde o mar afoga o amor.

Quero a insônia, a vigília, uma clarividência
deste instante que habito – ai, meu domínio triste!,
ilha onde eu mesma nada sei fazer por mim.

Vejo a flor; vejo no ar a mensagem das nuvens

- e na minha memória és imortalidade -
vejo as datas, escuto o próprio coração.

E depois o silêncio. E teus olhos abertos

nos meus fechados. E esta ausência em minha boca:
pois bem sei que falar é o mesmo que morrer:
Da vida à Vida, suspensas fugas.

Cecilia Meireles

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