Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.
Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'
O tempo voa e tão rapidamente e parece que foi ontem mesmo que eu ouvia uma música, Parecia mais uma cantiga de nanar, e, na mais tenra idade admirava a melodia, Mas, o tempo traz entendimento O coração se sensibiliza ainda mais e as circunstancias trazem a mente aquela melodia No dia que a gente cresce, se torna gente grande... E depois disso ? A letra mostra seu sentido... A fala esconde a verdade, O coração sangra... A melodia permanece eterna, na mente, no coração, na saudade...
A vida tem sons que para a gente ouvir precisa aprender a começar de novo... Eu amava como amava um pescador que se encanta mais com a rede e com o mar. Eu amava como jamais poderia se soubesse como te encontrar,.. Já não desespero me ajeito sem jeito e sofro pensando que eu sou uma ilha...
Bem que eu quis te entregar meu carinho minha vida minha história minha ilusão. E, até mesmo esta efêmera glória que desperdiço em escrever-lhe os versos que componho. Nada quiseste... e assim os sonhos que viviam, se ontem puderam ser começo de história são hoje dois caminhos que se distanciam...
Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa, a flor de espiga que desfias, a água que de súbito jorra na tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso por vezes com os olhos cansados de terem visto a terra que não muda, mas quando o teu riso entra sobe ao céu à minha procura e abre-me todas as portas da vida.
Meu amor, na hora mais obscura desfia o teu riso, e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua, ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca.
Perto do mar no outono, o teu riso deve erguer a sua cascata de espuma, e na primavera, amor, quero o teu riso como a flor que eu esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.
Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas curvas da ilha, ri-te deste rapaz desajeitado que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando os meus passos se forem, quando os meus passos voltarem, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas o teu riso nunca porque sem ele morreria.