domingo, 6 de fevereiro de 2022

Poema da despedida



Não saberei nunca

dizer adeus


Afinal, 

só os mortos sabem morrer


Resta ainda tudo,

só nós não podemos ser


Talvez o amor,

neste tempo,

seja ainda cedo


Não é este sossego

que eu queria,

este exílio de tudo,

esta solidão de todos


Agora 

não resta de mim

o que seja meu

e quando tento

o magro invento de um sonho

todo o inferno me vem à boca


Nenhuma palavra

alcança o mundo, eu sei

Ainda assim,

escrevo.


Mia Couto

Nenhum comentário:

Postar um comentário