terça-feira, 20 de junho de 2023

 Já não há domingos


Todas as vidas gastei

para morrer contigo.


E agora

…esfumou-se o tempo

e perdi o teu passo

para além da curva do rio.


Rasguei as cartas.

Em vão: o papel restou intacto.

Só os meus dedos murcharam, decepados.


Queimei as fotos.

Em vão: as imagens restaram incólumes

e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.


Com que roupa

vestirei minha alma

agora que já não há domingos?


Quero morrer, não consigo.

Depois de te viver

não há poente

nem o enfim de um fim.


Todas as mortes gastei

para viver contigo.


Mia Couto

Nenhum comentário:

Postar um comentário