domingo, 24 de setembro de 2023

 


A desilusão é um luto precoce.

 Uma despedida prematura. Crescemos a ver naquela pessoa, naquelas pessoas, o que, percebemos agora, não são. 

Estivemos anos a amar uma ficção, uma ilusão. 

Eles não são assim. 

Eles não merecem a nossa admiração, aquilo que enquanto crianças víamos como modelo. 

Eles não são as pessoas que julgávamos que eram. São outra coisa. 

A perda magoa sempre, mas magoa mais a continuidade da mentira.

 Quando alguém de quem gostamos — pai ou mãe, irmão ou irmã, tio ou tia, avô ou avó, primo ou prima, amigo ou amiga — nos oferece a desilusão profunda, a que vem da origem, do começo, o caminho tem de ser a libertação.

 Sair, deixar ir: deixar que a dor ganhe novas formas: formas definitivas.

 Para que o veneno não contamine, para que a cicuta não se consuma diariamente. 

Para que, enfim, a hemorragia estanque, e a dor pacifique. 

Ainda dor, ainda vazia, ainda desiludida, ainda revoltada, ainda inexplicável; mas em sossego.


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