A desilusão é um luto precoce.
Uma despedida prematura. Crescemos a ver naquela pessoa, naquelas pessoas, o que, percebemos agora, não são.
Estivemos anos a amar uma ficção, uma ilusão.
Eles não são assim.
Eles não merecem a nossa admiração, aquilo que enquanto crianças víamos como modelo.
Eles não são as pessoas que julgávamos que eram. São outra coisa.
A perda magoa sempre, mas magoa mais a continuidade da mentira.
Quando alguém de quem gostamos — pai ou mãe, irmão ou irmã, tio ou tia, avô ou avó, primo ou prima, amigo ou amiga — nos oferece a desilusão profunda, a que vem da origem, do começo, o caminho tem de ser a libertação.
Sair, deixar ir: deixar que a dor ganhe novas formas: formas definitivas.
Para que o veneno não contamine, para que a cicuta não se consuma diariamente.
Para que, enfim, a hemorragia estanque, e a dor pacifique.
Ainda dor, ainda vazia, ainda desiludida, ainda revoltada, ainda inexplicável; mas em sossego.
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