Vaticínio da mulher na despedida
Agora que vou partir
quero deixar o amor,
este amor que não me deixa
nem partir nem amar.
Quero deixar-te este amor
para teus amores,
para outras mulheres
que, por mim, não terás que recusar.
Não me verás chorar:
limpo a lágrima à última palavra.
E saberás
que não te amei a ti,
mas, em ti, a vida inteira,
maior que o sonho de a viver.
Digo-te, agora que vou:
amar não basta
e os amores são sempre poucos.
Talvez o amor não saiba amar.
Talvez o amor
seja um aprendiz
de esperas e ausências.
Não me serás fiel, eu sei.
Mas não haverá traição.
Eu serei todas as mulheres
que o teu leito encantar.
E tu não serás nunca
o homem de ninguém.
Príncipe, te sonharás .
Mas não mais terás princípio.
Mia Couto
(*) Nota: Mia Couto, in "Tradutor de Chuvas". Edição Caminho.
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